sábado, 13 de fevereiro de 2021

Sinais de Fumaça

 Acho que já faz um mês que desativei o Twitter.

O último bastião das grandes redes sociais na qual tinha conta e uso constante. Era um pensamento recorrente durante todo o ano de 2020. Apesar do fator gerador ter sido uma pessoa específica, a eclusão da conta ja estava fadada. Faltava o gatilho.

O papel dessas redes já vem sendo debatido ha muito tempo por especialistas e não pretendo entrar nessa dança. O fato é: cansei.

Desde a época do Orkut (quando se massificou essa interação), eu me senti mais preso à um mundo paralelo que não queria. Eu crio meus universos particulares desde sempre mas, esse caso era o oposto. Uma necessidade violenta de ter perfis como uma forma de comprovar sua existencia.

Para um menino imaginativo, sonhador mas também melancolico e depressivo, viver no mundo real já era dificil. Quando conseguia, escapava pro meu mundo. Os perfis sociais eram o oposto. Eram a expansão do real.

Relutei até onde deu. Na adolescencia, era como ter um documento que compravava que você existia. E, com o passar dos anos, isso só se comprovou.

Os benefícios existentes não se comparam à deterioração da saude mental que segue me acompanhando. Reitero que existem analises, estudos, documentarios e textos academicos que enfatizam isso de uma maneira mais abrangente e também detalhada. Aqui faço uma reflexão e dou uma explicação.

Não fiz mais amigos por lá. Ao contrário. Vivi relações superficiais com personagens, transposições de sonhos e desejos. Os amigos, de carne e osso, sumiram. Esvairam. Os determinantes eram as conexões via Facebook e Instagram.

Tentei me adequar. Sempre fui resistente à essas ondas. Como disse, ser uma persona na matrix não era difícil pra mim. Já criava meus mundos desde criança. Até tinha (tenho) escudos pra minha instropecção, como o humor autodepreciativo e o falatório. Sei fingir bem. 

Tudo isso para ser aceito - ou apenas não mais humilhado / sacaneado. Mas ser absorvido por isso, viver um mundo de fotos, scraps, autopromoção e felicidade irreal e constante eram demais pra mim. Não bastava viver isso na vida, tinha que ter mais um registro falso de vida.

Se você não tem perfil, você não existe. Era isso. Adapte-se ou morra,

Piorou

Existem milhares. A Teoria das Cordas online. Rede para amizade, namoro, sexo, pintura, briga.

Todo mundo se encaixando em uma prateleira. Formam-se "algortimos", bolhas atreladas a um monitoramento constante. 

Não há espaço pra solidão. E isso é enlouquecedor.

A primeira vez que abandonei as redes foi após um inicio de namoro. Em comum acordo, deletamos nossas contas para termos mais privacidade (ambos haviam se separado recentemente e fofocas se esplhavam como ervas daninhas) e compartilhamento mutuo de companheirismo. Uma vivencia a dois.

Com o tempo, em virtude das nossas vidas profissionais, retomamos nossos perfis. E isso me mostrou muitas coisas sobre quem eu não conhecia de fato. Qual a culpa das redes nisso? Apenas permitiram que não tivessemos a privacidade de discutirmos nossa vida.

Segredos expostos. Chantagens, Frases fora de contexto com montagens. Perfis disfarçados observando cada passo.

Adoecemos.

Sumi.

Voltei 2 anos depois. E parecia tudo bem. Me enganei por alguns meses.

Veio o gatilho. E resolvi deixar de vez.

Não quero ficar ligado em tudo. Sabendo tudo. Ouvindo tudo. E não vivendo.

Preciso cuidar do meu eu real que, com 36 anos, está sarando. 

Preciso cuidar dos meus pais, que estão envelhecendo.

Não quero ser vigiado por alguém que acompanhe meus passos, esperando meu tropeço.

E sei que não tem relevancia alguma pra esse mundo que saí. 150 contatos que tinha foram avisados da minha saida. 7 responderam com uma forma alternativa de contato - e-mail, telefone e até cartas, sem imediatismo - 3 ainda chamaram de bobagem. O resto? Não ligam. 

Não me abate. Já esperava até. Mas eu gosto de ter a confirmação

Estou alheio, mas observo de longe. Sem entrar. 

Hoje, a certeza que tenho na vida é que tudo tem um ciclo. E, no fim de cada um, eu sempre volto. A ficar só




2 comentários:

  1. Tudo é um ciclo. Só fica quem deve. Limpezas são importantes porque elas abrem espaços. E a gente não precisa saber de tudo.
    Tem muita sabedoria em se distanciar para entender o que se sente e em refletir em como se lida com os acontecimentos. As redes sociais nos distanciam muito disso.

    Um beijo,
    Fernanda Rodrigues | contato@algumasobservacoes.com
    Algumas Observações
    Projeto Escrita Criativa

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